Um terço dos franqueados opera múltiplas unidades

Um terço dos franqueados opera múltiplas unidades

 

Dentista de formação e atuante na área, João Paulo de Lima tinha o sonho de abrir e administrar um negócio próprio. Foi quando, em 2011, surgiu a oportunidade de se tornar franqueado da OdontoCompany após conhecer a rede em um congresso de Odontologia.

Inaugurou a primeira unidade em dezembro naquele mesmo ano. A empreitada deu tão certo que hoje ele, em parceria com o sócio, Leandro Stafocher, administra seis unidades da marca em São Paulo, nos bairros de São Miguel, São Mateus, Itaim Paulista e Guaianases (na Zona Leste da Capital Paulista, e nas cidades de Americana e Ribeirão Pires. Agora, a dupla se prepara para inaugurar a sétima, em Mauá.

Esse é um exemplo de perfil de franqueado que opera múltiplas unidades de uma mesma rede ou de marcas diferentes do setor de franquias. “É uma“tendência que virou realidade”, diz Altino Christofoletti Jr. presidente da Associação Brasileira de Franchising (ABF).

Se nos Estados Unidos esse movimento está consolidado, já que mais de 56% dos franqueados têm esse perfil, de acordo com a IFA, no Brasil o movimento ganha cada vez mais força: 28,3%, ou um terço dos franqueados, operam minirredes dentro uma mesma franqueadora.

Os dados, da pesquisa “Franqueados Multiunidade da ABF”, em parceria com o Grupo de Estudos de Franquias (FRANSTRATT) da USP Ribeirão Preto, divulgada nesta quinta-feira (10/05), também apontam que as próprias redes incentivam esse movimento Tanto é que 84% delas contam com esse tipo de parceiro de negócio.

Proporcionalmente, o total de redes que operam com essa modalidade aumentou de 68,5%, em 2016, para 74,5% em 2017. “É um movimento que tem crescido ano a ano, e já está caminhando para os 100%”, afirma Eugênio Bitti, professor da FEA (Faculdade de Economia e Administração) da USP Ribeirão Preto e coordenador do grupo de estudos em franquias.

No quesito multimarca – empresas que operam duas ou mais unidades de diferentes redes -, a presença desse tipo de franqueados também cresceu: segundo a pesquisa da USP Ribeirão Preto, 54% têm esse perfil, ante 43% em 2017 e 38% em 2016.

O movimento se acentuou nos últimos três anos, de acordo com Chritofoletti, devido à crise, já que algumas redes optaram por contar com parceiros conhecidos, capacidade de gestão e recursos para facilitar a expansão e evitar o fechamento de unidades.

A atuação dos multifranqueados também gerou impacto positivo por assumirem lojas em dificuldades financeiras, mas com potencial de mercado. O indicador subiu 5% em 2017, mantendo não só o ponto comercial como a geração de empregos, segundo a ABF.

Por outro lado, o ganho de escala, os custos diluídos e profissionalização maior da operação são algumas das características que acabaram puxando esse empreendedor do franchising para o perfil multiunidade, de acordo com Bitti.

O empresário João Paulo Lima, o multifranqueado da OdontoCompany, confirma. A vantagem, segundo ele, é centralizar a administração, além de acumular cada vez mais know-how para assumir novas operações, num círculo virtuoso.

“Você tem um padrão de fornecedores, de contratação, de formas de pagamentos dos dentistas parceiros. Tudo fica mais simples e natural ao longo do tempo”, afirma ele. Sua expectativa é chegar a 15 unidades nos próximos três anos.

Quanto às estratégias das franqueadoras, o estudo apontou que o tipo mais comum de multifranqueado é o sequencial não projetado (que adquire novas unidades pelo desempenho), com 57,52%, seguido pelo desenvolvedor de área, com 22,57%. Na sequência, vem o sequencial projetado, 10,89%, e, por último o modelo master franqueado, com 4,76%.

Esse último, segundo o professor Bitti, é menos comum devido à complexidade jurídica brasileira. É como se o franqueador “subfranqueasse” unidades. “É um modelo restrito a redes mais internacionalizadas e mas familiarizadas com esse tipo de parceiro de negócios.”.

 

 

 

 

 

 

 

 

Mas multifranquia não é um negócio “para todos”, segundo o presidente da ABF: além de depender de competência para investir em infraestrutura, profissionalização e gestão de pessoas para operar várias unidades, o grande desafio diz respeito àquestão tributária.

“99% dos franqueados operam no regime do Simples, mas quanto mais crescem, esbarram no limite de faturamento –o que impede que eles se desenvolvam e abram mais unidades”, diz.

Expectativas após o primeiro trimestre:

O franchising vem mantendo a trajetória de recuperação gradual, com a economia voltando a entrar nos eixos: o setor cresceu 5,1% no primeiro trimestre de 2018 ante igual período de 2017, e faturou R$ 38,76 bilhões, segundo a Pesquisa Trimestral de Desempenho da ABF.

A abertura e o fechamento de unidades aumentou 1% no período, já que houve uma alta de 2,2% unidades abertas e o fechamento de 1% delas. Hoje, há 144.527 em atividade no total – puxado pelo avanço dos franqueados multiunidade, segundo Altino Christofoletti Jr.

Entre os segmentos-destaque nos três primeiros meses do ano, estão Hotelaria e Turismo, que faturou 14,9% a mais do que em 2017, puxado pelo aumento das viagens internacionais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Já Serviços e outros Negócios cresceram 9,3%, impulsionados pelas franquias de logística e entregas. Na sequência, desponta a categoria Entretenimento e Lazer, com expansão de 7,8%, puxada pela redução do endividamento das famílias.

Novos pontos de venda, canais e modelos de operação também cresceram, segundo a pesquisa da ABF. No caso dos pontos de venda, enquanto lojas de rua e shoppings registraram queda ligeira queda de 1% a 2%, outros pontos não tradicionais chegaram a 5% ante 2017.

Quanto aos modelos de operação, a categoria Outros (home based, delivery e venda direta), também cresceu 5%. Nos canais de venda, as lojas franqueadas foram as tiveram maior participação no faturamento das redes, com 82% ante 71% em igual período de 2017.

Baseada nesses dados, a entidade projeta chegar ao fim de 2018 com alta entre 7% e 8% em faturamento, 3% no número de unidades e 3% em empregos diretos.

Para o presidente da ABF., os resultados mostram que o franchising é, mais que um canal de vendas, uma plataforma de negócios que envolve tecnologia e uma estrutura bem resolvida. “É isso que faz com que o cliente, na ponta, tenha a mesma percepção de contato com a marca, independente do canal.”

Publicado no Diário do Comércio de SP, por Karina Lignelli, em 11/05/2018 às 08:00